“Vácuo, meu querido Vácuo
Eu não sou assim de fino trato pra beber nos tragos
Minha paciência é passageira
Eu sempre fico por um triz
Quando a noite é de bebedeira
Vem a ressaca me deixar infeliz.”
Nossa, mas que bosta é essa que eu acabei de escrever?
PS: Você
ganha pontos extras se cantou no ritmo.
Vácuo, Hoje eu vou contar umas das minhas viagens de acido
que tive. Eu já tomei essa maravilha diversas vezes e em diversas ocasiões, mas
essa aventura que vou lhe contar foi especial, pois era a primeira vez que eu
tomei sozinho, trancado no meu quarto onde apenas o silencio e os meus medos eram as
minhas parceiras.
PREPARAÇÕES:
Eu não cheguei em casa e já fui tomando o doce que nem um
tonto e fiquei lá no meio da bagunça emocional junto com a bagunça do meu
quarto. Não Não.
Eu sou um cara que analisa tudo, mas tudo mesmo e tudo a
longo e curto prazo. Eu sempre penso nas possibilidades que cada ação tomada
pode levar.
Então, na semana em questão, eu calculei para sexta, assim
que eu chegar do trabalho.
Na quinta, eu havia deixado meu quarto arrumado, deixei tudo
limpo, Além de gostar das coisas em ordem, eu prezo pelo meu quarto sempre bem organizado,
pois lá é o meu templo e eu também não iria querer ficar procurando algo no
meio da bagunça quando estivesse louco de tudo.
Eu iria ficar dentro do meu guarda roupa, sim, Vácuo, dentro
do guarda roupa. Bom, você deve estar pensando: “Nossa, mas que otário, tá
querendo ir pra Nárnia? Huehuhue”.
Ir para Nárnia não era o meu proposito, pelo menos não dessa
forma. O meu guarda roupa é uma puta de cabine sonora particular, a minha
missão era achar um ambiente fechado que ampliasse o grave das musicas.
Então, eu tirei as roupas, coloquei o amplificador já regulado
lá dentro, meti um adaptador P2 na entrada e testei o som. Nossa, ficou muito
foda o som, o grave estava tão bom que chegava a desentupir o nariz.
O melhor de tudo é que o guarda roupa ampliava o som e
também não deixava que o som incomodasse os vizinhos, ou seja, eu poderia
gritar e morrer lá dentro que ninguém iria encher o saco.
Ok, com o quarto e o som arrumado, eu só tinha que descansar
e me preparar para o dia seguinte.
ANTES DE TOMAR.
Na sexta, eu cheguei do trabalho e fui jantar logo para a
comida ir já descendo e não prejudicar em nada.
Para se ter uma boa viajem, sem náuseas ou corte de brisa, é
necessário uma alimentação bem saudável,
Tá, é meio estranho falar isso não é? Ser saudável
para usar acido...
Enfim, comi algo sem gordura e tomei uns dois copão de suco
natural de laranja. Vitamina C ajuda muito a substância fluir no organismo com
glória.
Feito meu desjejum, eu tomei um banho, coloquei um roupa
leve, tranquei minha porta e coloquei o doce debaixo da língua. Isso já eram
umas 20:15.
PRIMEIRO PICO.
Já eram agora 20:20, eu sabia que os efeitos não iriam
tardar a chegar, eu já estava sentindo uma leveza, um leve suor frio e tudo
começava a ficar mais nítido.
A principio eu queria ver qual era o grau que aquele acido
daria, pois ai eu já iria saber como lidar. Então, eu coloquei um vídeo que
fizeram do álbum Dark Side of the Moon do Pink Floyd na minha tv, fora uma ótima
escolha, pois aquele álbum é envolvente de inicio ao fim.
Sentei no chão e fiquei assistindo o clip dali mesmo, logo,
no final da musica Breathe eu já
estava viajando e me deixava levar pelas maestrias das cores e espetáculos de harmonias.
No final da Time, eu voltei a ficar normal e pensei : “Nossa,
esse acido tá do caralho”.
Não perdi mais tempo, peguei meu celular, desliguei a luz do
meu quarto e a tv e entrei no meu guarda roupa.
MALES E VIRTUDES
Eu estava com vários pressentimentos e sensações ruins quando
entrei no guarda roupa.
Primeiro foi que eu me sentia um idiota por estar lá
(quem nesse mundo toma doce e entra em um guarda roupa?), senti que eu iria
entrar na bad monstra, que iria virar um claustrofóbico, que não daria nada
além de dor nas costas, que os vizinhos iriam roubar a minha brisa, que eu iria
ficar maluco, porém, a única coisa que me motivou mesmo a continuar, foi o medo
do desconhecido, a curiosidade e ansiedade de pensar no que estaria me
esperando na imensa escuridão do meu ser. Eu de fato iria pela primeira vez
enfrentar e conhecer cara a cara os meus males e virtudes.
DENTRO DO VAZIO
Eu coloquei o som no amplificador e deixei a musica fluindo.
Na playlist só tinha musica instrumental.
A primeira que começou foi uma de violino. Nossa, estava com
um qualidade muito boa.
Os pensamentos ruins de que tudo iria dar errado se foram assim
que as primeiras notas da musica foram soando.
Eu nunca me senti tão bem em toda minha vida, eu estava
muito relaxado, o som parecia que estava me carregando, me levando para a
infinidade de melodias, é como se eu estivesse em um concerto celestial.
Assim que entrou o violoncelo na musica, com aquele som
grave melódico, com o ar deliciosamente mórbido, meu corpo começou a formigar
inteiro, começando pela minha testa.
A escuridão que me engolia, começou a se tornar uma paisagem
e tudo começou a ter formas até chegar em um cenário.
Eu me vi em uma estrada deserta, eu estava em pé em uma
infinita estrada reta que ia desaparecendo no horizonte, estava ensolarado, não havia nada além de mim, poeira e a estrada.
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Eu sempre tive o fascínio desse tipo de cenário. Eu ainda faço questão de ainda viajar pra algum lugar assim. |
Então, eu comecei a andar, sentido sul da pista e na minha concepção, eu devia
estar andando há dias, mesmo notando que o sol não se movia do lugar.
Eu comecei a ficar
sedento e cansado, então eu parei, e fiquei vendo em minha volta, na tentativa
de encontrar algo ou alguém. Tudo em vão, pois o vazio e o silencio dessa estrada
estava no auge.
Logo, eu cai de joelhos no chão,e no desespero peguei um monte de poeira e apertei com força.
Então, eu ouvi:
-Hey, eu estava te esperando.
Dai, eu olho para trás assustado, pois eu tinha acabado de
ver que não havia nada e ninguém. Então vejo uma mesa redonda arrumada,
enfeitada com flores, cheia de bules, biscoitos, torrões de açúcar, enfim, uma autentica
mesa de chá britânica.
Nela havia dois lugares, uma vazia e a outra estava ocupada por
um abutre.
Sim, um abutre.
“Estava lhe esperando. Não vai se sentar?” disse o abutre
para mim.
Eu me levantei, puxei meu assento e sentei.
Naquele cenário, em que um urubu falante e uma mesa de chá britânica
aparecem do nada, era a coisa mais normal do mundo. Eu também não iria recusar
o convite de um urubu na altura desse campeonato.
Eu fiquei quieto, olhando o urubu nos olhos, olhei para o cenário
desértico que estávamos.
O urubu deu bicadas para tomar o chá que lhe foi servido (?)
e disse:
-Está tão vazio aqui ultimamente! .Mal consigo enxergar os
horizontes com tanto nada existente.
O que você tem feito ultimamente?. Bom, eu fico apenas
voando o dia inteiro todos os dias.
Você sabe como eu sou não é? Não consigo ter limites, eu não
tenho medo e eu me lembro de quando minha mãe disse para respirar e não
ter medo de voar, pois nessa vida você vai sorrir e também chorar...
Assim que ele terminou, ele deu mais uma bicada em seu chá e olhou para mim.
Eu fiquei boquiaberto, não tinha o que falar ou fazer.
“Não vai tomar o seu chá?” ele falou comigo.
Então, eu olhei para o meu copo e vi que estava vazio.
Dai, então tudo começou a distorcer e escurecer. A minha percepção começou a captar a musica
novamente e eu voltei do transe.
Achei que havia se passado a noite inteira, mas havia se passado apenas 2 horas.
Nossa, eu fiquei desnorteado na escuridão, pensando no que
acabou de acontecer. PQP um urubu bolado do chá acabou de falar uma par de
groselhas pra mim (???)
Eu dei uma pausa e sai do guarda roupa para respirar um
pouco. Eu estava muito louco ainda, meu quarto inteiro mexia, era muita informação passando na minha cabeça, então. eu respirei e eu mantive o
controle e coloquei os meus pezinhos na terra novamente.
Cara, um urubu tomando chá...
REFLEXÃO.
Como eu havia ficado cerca de 2 horas atrofiado dentro de um
espaço pequeno, eu fiquei todo podre.
Então, desliguei meu ampli, peguei agora meus foninhos e
rumei para a minha cama, pois era ali que eu iria brisar agora.
Eu ainda tava muito louco e pensei comigo “Nossa, eu quero
me perder no vazio, quero ir para as estrelas e ver o que mais posso trazer de
lá. Já não sinto o medo de ir tão além”
Eu perdi todo o meu medo, todos aqueles paradigmas de que se
usar esse tipo de coisa você perde o controle de si mesmo e poder ter uma brisa tão forte que você vai acabar
nunca mais voltando da terra da loucura e se perder na duvida e eterna do que é
real ou fantasia.
É claro que existem
substancias, quantidades, fatores, variedades e as maneira de se usar as coisas, vão acabar de te deixando que nem o Syd Barrett, E ai, meu amigo, cabe a você
determinar o seu nível de controle e ver se seu físico e psicológico aguenta
essas poha.
OBS: Vê se não dar uma de covarde revoltado e se entupir de
porcaria só pra chamar a atenção dos papais, seu viado. Faça o que você quiser com consciência e responsabilidade.
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You reached for the secret too soon
ULTIMO PICO.
Eu fiquei sentando na minha cama, apenas olhando as imagens aleatórias
que iam passando na minha tv.
Eu estava ouvindo musica com os fones na orelha e logo
entrei em transe.
Parecia que as imagens estavam vivas, saindo da minha tv e
flutuando ao redor do meu quarto.
Eu desliguei a tv, deixei uma luminária acessa no
meio do quarto e me deitei de costas na cama.
Estava muito confortável, o frio que fazia no momento estava
ajudando a manter o ar de tranquilidade. Eu adoro esse sentimento de paz com
frio.
Eu senti meu corpo se afundando na cama, entrando e se
aconchegando na paz.
Então, começou a tocar uma musica, e novamente fui sentindo
meu corpo formigar, mas foi de uma maneira diferente da que senti dentro do
guarda roupa.
Parecia que a minha essência estava saindo do corpo, como se
ela estivesse sendo hipnotizada e guiada pela musica. Minha essência vibrava
junto com a música.
Comecei a sentir que eu estava fora do meu corpo, não
enxergava nada e então senti que alguém, estava me levantando, mas não era
alguém, ara alguma coisa enorme.
Essa coisa me pegou carinhosamente com as suas imensas mão e me tirou do vazio e começou a me levar para algum lugar em meio a escuridão.
Eu perguntava quem era e para onde estava indo. Minha voz
ecoava alto e claro naquele lugar.
Eu não obtinha respostas, logo só me restou permanecer quieto e aguardar o meu destino.
A coisa me deixou na ponta de um desfiladeiro e na minha
frente havia uma caverna. Eu consegui ver algo brilhante vindo de lá dentro,
era luz de como se houvesse uma fogueira lá dentro.
Eu fui chegando mais perto da entrada da caverna e pude
ouvir a voz mais doce que já ouvi na minha vida. A voz era de uma mulher
cantarolando lá dentro e sua voz angelical ecoava divinamente até os meus ouvidos.
Eu entrei na caverna e fui seguindo a luz. Quanto mais eu
chegava perto da fonte da luz, mais belo e alto ficava a doce voz.
Quando achei a fogueira, eu percebi que o som saia do próprio
fogo. Era algo tão encantador, tão lindo...
Sentei em volta da fogueira e fixei meu olha na hipnotizante
dança do fogo e me deixei levar pelo canto.
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Quando me dei conta, eu percebi que estava no cenário do No
Man's Wharf do Dark Souls II e que estava de fato sentado na bonfire aonde se
encontra a Lucatiel de Mirrah, nesse momento, infelizmente, eu voltei do transe.
FINAL
Depois dessas epopeias, eu fiquei cansando e com uma fadiga
mental do caralho. Parecia que eu tinha acabado de prestar uma prova.
Sai do meu quarto, joguei uma água no rosto, preparei algum
nescau quente e fiquei no meu quintal tomando um ar com os meus cachorros.
Acho que fiquei cerca de uma hora lá com os dogs olhando o
céu e refletindo.
Pra mim, essa foi uma das brisas mais fodas que eu já senti
na vida. Eu não me programei de usar doce em casa desde então, mas assim que eu me programar, eu falo pra você, Vácuo;
Forte abraço.